O projeto da Sede e Sinagoga da Sociedade Israelita da Bahia já havíamos publicado aqui anteriormente quando ainda estava em sua etapa de projeto e recebeu uma das premiações do 10° Prêmio Jovens Arquitetos do IAB de 2011. Agora acompanhamos sua construção.
O projeto para a nova sede e sinagoga da Sociedade Israelita da Bahia surge no âmbito dos planos de renovação geral da instituição.
Atendendo à necessidade de adaptar o funcionamento da comunidade às mudanças ocorridas em seus sessenta anos de existência foi preciso buscar um novo lugar, acessível ao pedestre e na área de expansão da cidade, onde reside a maior parte das famílias hoje sócias da SIB. Após um longo processo foram adquiridas três casas na Rua das Rosas, Pituba, demolidas para dar lugar a um lote com área de 1270,00m².
Tal área será ocupada por uma construção multiuso, que agrega o uso religioso ao uso comunitário, respeitando a função básica da sinagoga de ser o Beit Ha-Knesset (Casa da Congregação), o Beit Ha-Tefilah (Casa da Oração) e o Beit Ha-Midrash (Casa do Estudo), consolidando o desejo de unificação das sedes religiosa e social num só edifício.
Partido
O partido adotado responde ao programa religioso, educativo e social proposto, bem como adapta-se aos restritos parâmetros urbanísticos da área, buscando expressar o caráter agregador da sede multifuncional através de um volume único e horizontal. A implantação do pavimento térreo faz-se um metro acima da rua, de modo a diminuir a escavação do subsolo, bem como faz um contraponto ao lote irregular, localizado frente a um trecho da rua em curva acentuada. A implantação, assim, busca posicionar o acesso de pedestres e veículos num ponto central estratégico, bem como preservar uma árvore existente no espaço urbano e liberar as zonas de recuo obrigatório para jardins e áreas comuns.
O volume é, por sua vez, composto de duas partes fundamentais: o trecho religioso e congregacional, ao leste, onde estão a sinagoga, o salão multiuso e a quadra poliesportiva descoberta, e o tramo comunitário, que reúne a oeste o programa mais compartimentado e funcional, tais como salas administrativas, escritório do rabino, biblioteca e piscina, na cobertura.
Os dois momentos têm respostas arquitetônicas sutilmente diversas, variando de um volume fragmentado e protegido pela vegetação a um sólido encerrado e monolítico, reflexo da presença do espaço religioso bem como do salão multiuso, espaços caracterizados pela necessidade de controle da luz natural. Tal transição é marcada pelo uso de um cobogó triangular, que corresponde no alçado frontal à posição do vestíbulo da sinagoga, do foyer do espaço multiuso e da circulação vertical no edifício, espaços de conexão entre os diferentes usos propostos.
Para o volume da sinagoga está prevista a utilização de azulejos artísticos azuis e brancos, montando um padrão geométrico trabalhado a partir da figura da estrela de seis pontos, a Estrela de David, criando relação de linguagem com os azulejos modernistas brasileiros, por sua vez uma expressão bastante ligada à tradição da arquitetura colonial em Salvador. O restante do prédio deverá ser revestido em pastilha de porcelana branca fosca de 2,5×2,5cm.
O concreto aparente é a escolha para execução de elementos de arremate da composição volumétrica, tais como o muro frontal, a marquise na cobertura e a parede ritual da sinagoga.
A composição tira partido da estrutura de concreto com laje nervurada e vãos de 12,5×7,40m, propícios a criação de espaços amplos e sem obstáculos, capazes de cumprir sua função congregacional.
A Sinagoga
A sinagoga proposta é um espaço retangular de planta central, desenhado em função de seus dois elementos fundamentais: o Aron Ha Kodesh, ou Arca Sagrada, onde guarda-se a Torah; e a bimah, o baldaquino, de onde conduz-se a liturgia.
A planta é do modelo tradicional de sinagogas ashquenazitas, ou seja, ligada à tradição judaica oriunda do leste europeu, de onde vieram grande parte dos ancestrais da comunidade.
Neste caso, a bimah localiza-se ao centro, tendo a congregação à sua volta, e mirando o muro orientado a leste onde fica a Torah (voltada a Jerusalém). A platéia está organizada em níveis diferentes, o que cria uma situação confortável para visualização da cerimônia. Todo o conjunto visa acentuar o caráter congregacional do espaço.
O Aron Ha Kodesh a ser utilizado será trazido da sinagoga atual. A peça em madeira de lei consitui numa forte referência para a comunidade e será disposta num nicho de concreto aparente, ladeado por muros com o mesmo tratamento.
A sinagoga é também o único espaço do prédio com a laje nervurada aparente, levando o pé-direito máximo a cerca de cinco metros. Quatro pilares de concreto aparente e seção circular delimitam o espaço principal e duas “naves” laterais , onde serão resolvidos os equipamentos de climatização, sob forro em madeira, bem como assentos complementares para cerimônias com maior público.
A luz natural é um elemento fundamental na composição espacial da sinagoga, uma vez que reforça a liturgia a partir do destaque do muro leste, bem como do nicho sobre a Arca Sagrada, que recebe a luz zenitalmente, de modo a evocar a presença do sagrado, a luz divina.
O recinto religioso deverá também receber uma menorah (candelabro de sete braços) e o ner tamid (luz eterna), a serem executados como esculturas metálicas de caráter mais orgânico, aplicadas sobre a supefície do concreto, respectivamente no muro leste e no teto.